Carta ao Prefeito
sexta-feira, 5 de junho de 2009.
Senhor Prefeito do Distrito Federal
Eu sou um desses estranhos animais que têm por habitat o Rio de Janeiro; ouvi-me, pois, com o devido respeito. Sou um monstro de resistência e um técnico em sobrevivência - pois o carioca é, antes de tudo, um forte. Se às vezes saio do Rio por algum tempo para descansar de seus perigos e desconfortos (certa vez inventei até ser correspondente de guerra, para ter um pouco de paz) a verdade é que sempre volto.
Acostumei-me, assim, a viver perigosamente. Não sou covarde como esses equilibristas estrangeiros que passeiam sobre fios entre os edifícios. Vejo-os lá em cima, longe, dos ônibus e lotações, atravessando a rua pelos ares e murmuro: eu quero ver é no chão.
Também não sou assustado como esse senhor deputado Tenório Cavalcanti, que mora em Caxias e vive armado; moro bem no paralelo 38, entre Ipanema e Copacabana, e às vezes, nas caladas da noite, percorro desarmado várias boates desta zona e permaneço horas dentro da penumbra entre cadeiras que esvoaçam e garrafas que se partem docemente na cabeça dos fiéis em torno. E estou vivo.
Ainda hoje tenho coragem bastante para tomar um ônibus ou mesmo um lotação e ir dentro dele até o centro da cidade. Vivo assim, dia a dia, noite a noite, isto que os historiadores do futuro, estupefatos, chamarão a Batalha do Rio de Janeiro. Já fiz mesmo várias viagens na Central. Eu sou um bravo, senhor.
Sei também que não me resta nenhum direito terreno; respiro o ar dos escapamentos abertos e me banho até no Leblon, considerado um dos mais lindos esgotos do mundo; aspiro o perfume da curva do Mourisco e a brisa da Lagoa e -sobrevivo. E compreendo que, embora vós administreis à maneira suíça, nós continuaremos a viver à maneira carioca.
Eu é que não me queixo; já me aconteceu escapar de morrer dentro de um táxi em uma tarde de inundação e ter o consolo de, chegando em casa, encontrar a torneira perfeitamente seca.
Prometestes, senhor, acabar em 30 dias com as inundações no Rio de Janeiro; todo o povo é testemunha desta promessa e de seu cumprimento: é que atacaste, senhor, o mal pela raiz, que são as chuvas. Parou de chover, medida excelente e digna de encômios.
Mas não é para dizer isso que vos escrevo. É para agradecer a providência que vossa administração tomou nestas últimas quatro noites, instalando uma esplêndida lua cheia em Copacabana. Não sei se a fizestes adquirir na Suíça para nosso uso permanente, ou se é nacional. Talvez só possamos obter uma lua cheia definitiva reformando a Constituição e libertando Vargas.
Mas a verdade é que o luar sobre as ondas me consolou o peito. E eu andava muito precisado.
Obrigado, Senhor.
Rubem Braga - Rio, junho de 1951
Encômios – elogios – louvores
1) A partir de pistas presentes no texto, como é possível escrever o ambiente em que o personagem vive; rural ou urbano? Como você pode perceber?
A partir da leitura do texto, podemos afirmar que a crônica foi escrita com a estrutura de uma carta? Justifique sua resposta.
No texto, a personagem manifesta alguns sentimentos com relação ao local em que vive. Quais são esses sentimentos?
No final do texto o autor diz; “ Prometestes, senhor, acabar em 30 dias com as inundações no Rio de Janeiro; todo o povo é testemunha desta promessa e de seu cumprimento: é que atacaste, senhor, o mal pela raiz, que são as chuvas Parou de chover, medida excelente e digna de encômios.” De fato, o autor quer elogiar o prefeito? Justifique a resposta.
A partir das respostas anteriores qual é a ideia principal do texto?
Essa crônica foi escrita em 1951. Os problemas apresentados no crônica existem hoje em dia?Oque você acha dessa situação?
Escreva uma carta a um amigo(a) contando sobre os problemas de sua cidade.
RESPOSTAS
O personagem vive em um ambiente urbano. Ele menciona que vive no Rio de Janeiro, toma ônibus, pega lotação, etc.
Sim, apesar de ser uma crônica, o autor produziu com a estrutura de uma carta, apresentando a saudação inicial, o corpo do texto e a despedida.
A personagem parece triste com a realidade da cidade ( enchente, falta de água, violência, etc.)mas ao mesmo tempo, admira suas belezas, como o luar que pousa sobre as águas.
Não, o autor não que eleogiar o prefeito, parece que ele está brincando.
Fazer uma crítica em relaçao a atuação do prefeito.
Sim, os problemas como enchente e violência são muitos comuns hoje em dia ( RESPOSTA PESSOAL)
RESPOSTA PESSOAL
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