sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

O cachorro engraçadinho - Cecília Meirelles

O cachorro engraçadinho

Cecília Meirelles


Há coisa mais triste que um menino sem irmãos nem companheiros,

fechado num apartamento ? Foi por isso que a família resolveu arranjar um

cachorrinho para brincar com o filho único. Os brinquedos, afinal, são

máquinas e acabam por enfastiar; o cachorrinho é um brinquedo vivo, quase

humano, o melhor amigo do homem etc. E veio o cachorrinho, muito

engraçadinho. Todos os cercaram, encantadíssimos. Dizem que os cães

sempre se parecem com os seus donos: este parecia-se com os donos, com

os amigos dos donos e até com os empregados da casa. Não se pode ser

mais amável. Era pretinho, lustroso, com umas malhas cor de mel em certos

lugares do focinho e do corpo. Orelhas sedosas e moles, e um rabinho que o

menino logo descobriu poder funcionar como manivela. E assim o utilizou.

O cachorrinho também parecia contentíssimo, e pulava para cá e para

lá, e às vezes parecia um cavalinho em miniatura. Mas era uma miniatura

Pinscher.

Não era só engraçadíssimo; era inteligentíssimo. Se lhe ensinassem,

creio que chegaria a atender o telefone. Instalou-se no apartamento como se

fosse o seu principal habitante. A vida passou a girar em torno dele. Deramlhe coleira, casaquinho, osso artificial para brincar, puseram-lhe nome,

compraram-lhe biscoitos. Pensando bem, era muito mais feliz que o menino

de cuja felicidade se cogitava. Talvez ele até entendesse o que diziam a seu

respeito, pois a cozinheira reparou que sua inteligência excedia a das

criaturas humanas. Via-o fitar um ponto no vazio, acompanhar uma presença

invisível, para a qual latia, demonstrando ser um animal dotado de poderes

sobrenaturais: um cãozinho vidente. Nessas condições, nem precisava

entender a nossa linguagem: podia captar diretamente os pensamentos...

O cachorrinho engraçadinho recebia as visitas com grande efusão.

Mordia-as de brincadeira nas pernas e nos braços, às vezes puxava um fio

de meia - mas era muito engraçadinho - dava saltos verticais que nem um

bailarino, e, como estava na muda dos dentes, babava as pessoas com muito

entusiasmo e de vez em quando deixava cair por cima delas um de seus

dentinhos, tão brancos e primorosos que pareciam de matéria plástica.

Além de receber as visitas, o cachorrinho engraçadinho sentava-se ao

lado delas, acompanhava com os olhos as suas expressões, despedia-se

delas com muita gentileza.

Acostumou-se de tal modo à família que não quis mais dormir sozinho,

passou a ocupar o melhor lugar das camas, como ocupava o das poltronas.

E quis também comer à mesa, escolhendo uma cadeira e colocando as7

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E quis também comer à mesa, escolhendo uma cadeira e colocando as

patinhas no lugar que a etiqueta recomenda, e que já bem poucas pessoas

conhecem como se pode observar em qualquer restaurante.

Até certo ponto o cachorrinho engraçadinho foi um divertimento, salvo

quando molhava os tapetes ou as almofadas.

¸ Vocabulário

artificial - postiço, fabricado, não natural

captar - entender, compreender

cogitar - pensar, raciocinar, imaginar

dotado - favorecido, beneficiado, que tem o dom natural

efusão - fervor de amizade, com grande alegria

enfastiar - entendiar, aborrecer

etiqueta - conjunto de cerimônias no trato de muitas pessoas, regra estilo

exceder - superar, ultrapassar

fitar - olhar, fixar a vista, o pensamento, a atenção em alguma coisa

lustroso - reluzente, brilhante, polido

Pinscher - raça de cachorro de baixa estatura e de porte pequeno

primoroso - perfeito, distinto, excelente

salvo - exceto, afora

sedosos - que tem seda, semelhante à seda, peludo, macio

sobrenatural - superior ao natural, excessivo, sobre-humano, que excede as forças

da natureza, que não tem explicação

vidente - que profetiza, que tem a faculdade de visão sobrenatural de cenas futuras

II - Conhecendo o Texto

A T I V I D A D E 1

1 - Explique com suas palavras as frases abaixo, considerando que o sentido da

palavra artificial é o mesmo do texto.

a) Sentia uma alegria artificial.


b) Deram-lhe um osso artificial.


c) Comprei flores artificiais na floricultura.


d) O cachorrinho tinha uma vida artificial.


2 - Reescreva as frases, substituindo as palavras sublinhadas por sinônimos.

Consulte o vocabulário do texto ou o dicionário.

a) "Os brinquedos, afinal, são máquinas e acabam por enfastiar".


b) Pensando bem, era muito mais feliz que o menino de cuja felicidade se

cogitava".

______________________________________________________________


c) "Sua inteligência excedia a das criaturas humanas".


d) "Nem precisava entender a nossa linguagem: podia captar diretamente os

pensamentos".


Nas questões de 3 a 5, assinale com um ( X ) a opção que melhor explique o

significado das palavras nas frases.

3 - "O cachorrinho engraçadinho recebia as visitas com efusão".

a) (__) timidez

b) (__) fervor de amizade

  1. (__) balançando o rabinho

4 - "O cachorrinho foi um divertimento, salvo quando molhava os tapetes ou as

almofadas".

a) (__) afora

b) (__) contrário

  1. (__) permitido


5 - "E quis também comer à mesa, escolhendo uma cadeira e colocando as patinhas

no lugar que a etiqueta recomenda".

a) (__) costume

b) (__) selo de compra

  1. (__) normas, regras


6 - Numere os parênteses de acordo com a ordem dos acontecimentos no texto.

a) (____) Todos ficaram encantadíssimos com o cachorrinho.

b) (____) A família resolveu comprar um cachorrinho para o menino.

c) (____) À medida que o tempo passava, o cachorrinho foi se tornando um

membro da família e até sentava-se à mesa.

d) (____) O único fato que contrastava com sua inteligência e o colocava na

condição de animal era que molhava os tapetes e as almofadas.

e) (____) O animalzinho se adaptou facilmente ao convívio com a família.


7 - Retire do primeiro parágrafo a pergunta com a qual a autora se dirige ao leitor.


8 - De acordo com a descrição que a autora faz do cachorrinho, vamos fazer uma

ficha com suas características.

a) raça:

b) tamanho:

c) cor:

d) pêlo:

e) focinho e corpo:

f) orelhas:

g) rabo:

Você deve ter observado que nesse texto a intenção da autora é descrever o

comportamento do cachorrinho no convívio familiar e apresentá-lo fisicamente.

As características físicas ( aquilo que é externo, que está fora ) são percebidas

pela visão, audição, tato, paladar e olfato. Já as características psicológicas ( aquilo que é

interno ) retratam os aspectos emocionais de uma pessoa.

Vejamos como esse jeito de escrever foi utilizado no texto.



Responda as questões de 1 a 7.

1 - Qual a diferença entre brinquedo mecânico e o cachorrinho, segundo o texto ?


2 - Na descrição, usa-se muito o recurso da comparação para caracterizar melhor o

que estamos descrevendo. No texto, com o que e com quem o animalzinho é

comparado ?


3 - Os animais não apresentam características psicológicas, e sim de

comportamento. Qual o comportamento do cachorrinho a partir do momento que

chegou à nova morada ?


III - Conversando sobre o texto.

4 - A autora descreve muito pouco o ambiente e a família com a qual o

cachorrinho foi morar. Observe com atenção todos os detalhes que o texto

fornece e responda.

Qual é a classe social da família ? Por quê ?


5 - Quando o cachorrinho chegou, puseram-lhe nome.Que nome você daria a ele ?


6 - Você concorda que o cachorro é o melhor amigo do homem ? Justifique.


7 - Como você imagina o menino do texto quanto ao

a) aspecto físico ?


b) aspecto psicológico


8 - Assinale a opção correta. Qual era o comportamento do animalzinho com as

visitas ?

a) (__) raivoso, bravo

b) (__) indiferente, não ligava para nada

c) (__) alegre, contente

9 - Assinale a opção correta. O cachorrinho do texto é descrito

a) (__) pelo menino.

b) (__) pelos pais.

c) (__) pelo descritor do texto.

10 - Explique a frase: "Os brinquedos, afinal, são máquinas e acabam por enfastiar."


11 - Você concorda que um cachorro possa ocupar, dentro de casa, o lugar de uma

pessoa ? Justifique sua resposta.


12 - Que outro título você daria ao texto ?



Um comentário:

Haldny Santos disse...

vc responde todos menos essi :S